Entendendo a disfunção erétil psicogênica

Data de Publicação: 24 de setembro de 2024

A disfunção erétil de origem psicológica, é a mais prevalente em homens jovens e corresponde a aproximadamente 10% dos casos em pacientes com mais de 50 anos (Avatshi et al 1994). A partir dos quarenta e cinco anos, a incidência de problemas relacionados a dificuldades de saúde em geral, ou doenças do próprio pênis, aumenta significativamente.
Na prática clínica, é muito freqüente não entenderem a discordância entre querer sentir mais desejo e não conseguir ou, querer manter o desejo durante a relação,mas perder a ereção,
Inicialmente é preciso avaliar, a origem destas dificuldades, se estão mais ligadas a questões psíquicas ou orgânicas, e caso o problema seja orgânico, poder discriminar se está causando repercussão emocional de forma que aumente ainda mais a dificuldade.
A possibilidade de oferecer uma descrição o mais detalhada possível do que está acontecendo, bem como dos inícios, é um recurso muitíssimo importante para a avaliação.
Em seguida, o transcorrer do acompanhamento psicológico a casos de disfunção erétil, requer um trabalho de busca para entender o que está se passando. É comum, por exemplo, observarmos na literatura e escutarmos de profissionais que acompanham pacientes na área de andrologia, urologia, e terapias ligadas à sexualidade, que muitos sintomas se relacionam à ansiedade de desempenho, depressão, envelhecimento, medos, culpas, tensão emocional, cansaço,etc. Contudo, identificar essas associações feitas pelo paciente, é apenas um primeiro começo, e isso é o que diferencia um tratamento, de uma conversa com outras pessoas. Poder realizar, não apenas uso de medicações, (que no tratamento podem servir como um paliativo por um tempo,é preciso avaliar cada caso), mas um processo de pensamento, ligando o aos sinais que aparecem, o que está realmente relacionado ao problema, é o que fará com que a pessoa sinta de fato uma autonomia sobre si mesma, pois o tratamento visa um entendimento
e reorganização de forma que não precise mais estar a mercê de algo desconhecido que aparece e desaparece, sem que tenha como controlar.
Com relação a esse descontrole, em alguns casos terão homens que sempre tiveram dificuldade na sexualidade adulta, bem como outros vão ter alguma circunstância que desencadeou.
Um dos aspectos que mais parece dificultar, tanto a busca de tratamento para DE, como a permanência no mesmo, é uma construção de representações acerca da masculinidade, que não relativize a construção singular de cada um. Assim, por exemplo, homens que têm um jeito de pensar formado intensamente por noções de extremos e comparação, têm mais dificuldade no tratamento, porque quando pensam acerca do que consideram fragilidades, questões muitas vezes ligadas a contingências inerentes ao ser humano, mas que despertam uma sensação de ameaça muito grande e confusão, percebem como se eles como um todo fossem frágeis e até mesmo, um fracasso.
O acompanhamento de pessoas nesses processos de tratamento, cujo referencial baseia-se no estudo da importância dos cuidados e vivências na infância e adolescência para a constituição do psiquismo, favorece esse paciente a se curar, mas não somente da disfunção erétil, e sim, de um jeito de funcionar, ancorado, muitas vezes, em expectativas e representações construídas em um tempo da sua história em que não se tinha muita possibilidade de se questionar.
Até a puberdade, bases importantes do psiquismo foram formadas e na adolescência, então, os jovens vão para as primeiras relações sexuais com essa construção mais ou menos favorecida, e essa nova experiência pode vir a ajudar a reorganizar, ou aumentar ainda mais dificuldades pré existentes.
É um alento, todavia, saber que o psiquismo é dinâmico, tem possibilidade de aproveitar melhor os recursos que já dispõe, bem como construir novos… basta ter uma certa disponibilidade para poder experimentar um tratamento que requer aprofundar um conhecimento sobre si mesmo.